quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Amar sem medo


Um peregrino chegou até a aldeia onde vivia Abu Yazid al-Bistrami.

- Ensine-me a maneira mais rápida de chegar até Deus.

Al-Bistrami respondeu:

- Amá-lo com todas as tuas forças.

- Isto eu já faço.

- Então precisas ser amado pelos outros.

- Mas por que?

- Porque Deus olha o coração de todos os homens. Quando visitar o teu, certamente irá ver teu amor por Ele, e ficará contente. Entretanto, se Ele encontrar - também no coração de outras pessoas - o teu nome escrito com carinho, na certa irá prestar muito mais atenção em ti.

Do rito de passagem


Não se esqueçam de que, na vida, existe uma coisa chamada “rito de passagem”. Quando decidimos mudar, quando estamos prontos para o próximo salto, precisamos ritualizar este momento.

Todas as religiões têm isso: festa de 15 anos, casamento, formatura.

O rito de passagem traz responsabilidade ao ato da mudança. Vá a um lugar sagrado – uma igreja, um bosque, seja o que for – e entre em comunhão com o Universo. Use uma roupa que você comprou ou guardou para este dia. Faça uma oferenda e uma prece: dedique os próximos passos a Deus. Peça a Ele para lhe guiar, proteger, mostrar o melhor caminho.

Lembre-se: todos os seus atos são sagrados e necessários. Dê a eles o seu devido valor.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Como aprende a girafa


Minha geração foi (bem) alimentada com as biografias escritas por Irving Stone, retratando homens como Michelangelo, Van Gogh ou Charles Darwin.

Quando lhe perguntaram se havia algum traço que unisse estas pessoas, Stone respondeu:

“A maioria deles foi atacada, derrotada, insultada, e por muitos anos não chegou a lugar nenhum. Entretanto, cada vez que caíam por terra, tinham capacidade de recuperar-se e tentar de novo. Os grandes gênios são aqueles que nunca deram ao inimigo o poder de destruí-los”.

O comentário de Stone fez um amigo meu lembrar-se de “A View from the Zoo”, um interessantíssimo livro onde Gary Richmond traça paralelos entre o comportamento animal e humano. Em uma de suas mais agudas observações, está a descrição do processo de nascimento de uma girafa.

Para começar, o bebê despenca de uma considerável altura, batendo com toda força no solo. A mãe, com seu longo pescoço, move-se um pouco para o lado, e vê que a cria se debate para colocar-se de pé. Imediatamente, ela estende sua longa pata, e dá um chute não muito delicado, de modo que a girafinha termina rolando sobre si mesma. Vários chutes são dados, até que, já cansada, a recém-nascida consegue finalmente levantar-se, de modo a fugir daquele comportamento agressivo.

Neste momento, ao invés de ficar orgulhosa, a mãe tem uma atitude estranha: de novo chuta a sua cria, que cai e torna a levantar-se mais depressa.

Por que?

Ela quer que a girafinha aprenda rápido que irá viver em um mundo cheio de leões, hienas, leopardos, caçadores.

Se não aprende logo a levantar-se quando cai, jamais irá poder desfrutar a vida que tem pela frente.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Agüentando o insulto


Um rico mercador judeu viajava na mesma cabine de trem com um senhor mal vestido. Em determinado momento, seu companheiro de viagem tentou entabular uma conversa, mas o mercador virou-se e preferiu contemplar a paisagem: aquele pobre coitado nada tinha de importante para lhe oferecer.

Quando chegaram, notou que na plataforma da estação havia uma multidão enorme, esperando aquele que era um dos mais sábios e santos rabinos europeus. E foi aí que se deu conta, ao descer do vagão, que a pessoa tão esperada era justamente seu companheiro de cabine.

Embaraçado pelo seu comportamento, e lamentando porque não usara uma oportunidade de ouro para conversar com alguém tão especial, ele foi pedir perdão pelo seu comportamento.

O velho rabino respondeu:

- “Não tenho o direito de fazer isso. Para conseguir perdão, você deve pedi-lo a todos os pobres do mundo, que foram agredidos pelo seu orgulho e pelo seu comportamento”.

Diante de Deus


Um velho vendia brinquedos no mercado de Bagdad. Seus compradores, sabendo que ele estava com a visão fraca, de vez em quando pagavam com moedas falsas.

O velho percebia o truque - mas não dizia nada. Em suas orações, pedia a Deus que perdoasse os que lhe enganavam.

“Talvez estejam com pouco dinheiro, e querem comprar presentes para os filhos”, dizia consigo mesmo.

O tempo passou, e o homem morreu.

Diante do portal do Paraíso, rezou mais uma vez:

“Senhor!”, disse. “Sou um pecador. Fiz muita coisa errada, não sou melhor que as moedas falsas que recebi. Perdoai-me!”

Neste momento o portão se abriu, e uma Voz disse:

“Perdoar o que? Como posso julgar alguém que, em toda a sua vida, jamais julgou os outros?”

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Do trabalho


Se você está em dúvida sobre suas atividades profissionais, pare diante do espelho e pergunte: “meu trabalho me faz bem?”

Às vezes é necessário cumprir certas etapas, porque escolhemos determinado caminho – e tudo tem seu preço. Mas, se o que você está fazendo agora não é parte de seus sonhos, pare. Você está colocando ali, no mínimo, oito horas de vida por dia. Não acredite naquela história de “ah, eu vou fazer isto por um tempo, e depois farei o que realmente desejo”. Se você agir assim N-U-N-C-A terá oportunidade para viver da maneira que realmente quer. Não vale a desculpa: Ah, eu me sacrifico por pessoas que amo”. As pessoas que lhe amam querem lhe ver feliz.

Não há dinheiro que pague seu tempo. Lembre-se: quando ficar velho, onde vai comprar de volta os minutos de vida que vendeu?

Não existe um Banco de Vida. O que existe é a Vida.

Distinguindo o bom do mau


Um padeiro queria conhecer Uways, e este foi à padaria disfarçado de mendigo. Pegou um pão, começou a comê-lo: o padeiro espancou-o e atirou-o na rua.

- Louco! - disse um discípulo que chegava - não vê que expulsou o mestre que queria conhecer?

Arrependido, o padeiro foi até a rua, e perguntou o que podia fazer para que o perdoasse. Uways pediu que convidasse a ele e seus discípulos para comer.

O padeiro levou-os até um excelente restaurante, e pediu os pratos mais caros.

- Assim distinguimos o homem bom do homem mau – disse Uways para os discípulos, no meio do almoço. - Este padeiro é capaz de gastar dez moedas de ouro num banquete porque sou célebre, mas é incapaz de dar um pão para alimentar um mendigo com fome.

Os que se julgam puros


Um grupo muito grande de pessoas está no meio da estrada, barrando o caminho que leva ao Paraíso.

O puritano pergunta: “Por que os pecadores?”

E o moralista berra: ” a prostituta quer fazer parte do banquete!”

Grita o guardião dos valores sociais: ” como perdoar a mulher adúltera, se ela pecou?”

O penitente rasga suas roupas: “por que curar um cego que só pensa em sua doença e nem sequer agradece?”

Esperneia o asceta: ” tu deixas que a mulher derrame em teus cabelos um óleo caro! Por que não vende-lo e comprar comida?”

Sorrindo, Jesus segura a porta aberta. E os guerreiros da luz entram, independente da gritaria histérica – porque sabem que o julgamento dos Céus é muito mais generoso que o julgamento dos homens.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

O leão e os gatos


Um leão encontrou um grupo de gatos conversando. “Vou devorá-los”, pensou.

Mas começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção no que diziam.

- Meu bom Deus - disse um dos gatos, sem notar a presença do leão. - Oramos a tarde inteira! Pedimos que chovessem ratos do céu!

- E, até agora, nada aconteceu! - disse outro. - Será que o Senhor não existe?

O céu permaneceu mudo. E os gatos perderam a fé.

O leão levantou-se, e seguiu seu caminho, pensando: “veja como são coisas. Eu ia matar estes animais, mas Deus me impediu. Mesmo assim, eles pararam de acreditar nas graças divinas: estavam tão preocupados com o que estava faltando, que nem repararam na proteção que receberam”.